Bordar os sonhos:
O Ponto e A Linha no Bordado Contemporâneo
Anália, Deyse, Jucimar, Lindaura, Lita, Luzia, Maria Isabel, Mariazinha, Neuza e Raimunda10/07 a 31/08/2019

Release
“Bordar os Sonhos” é um projeto de arte têxtil que nasce a partir de questionamentos sobre os critérios que definem e separam a arte e o artesanato. “A principal proposta de nossas ações é a criação de tempos para estarmos juntas, ativando o compartilhamento de relatos cotidianos e a produção individual e coletiva de narrativas e imagens através do bordado”, explica Flávia Bomfim, que desenvolve este trabalho em grupo desde 2013. A colaboração artística é atualmente composta por Anália, Deyse, Jucimar, Lindaura, Lita, Luzia, Maria Isabel, Mariazinha, Neuza e Raimunda. Elas se encontram todas as terças-feiras no Centro Comunitário Cultural de Sussuarana, para criar imagens com a técnica do bordado livre, construindo suas memórias e histórias, refletindo seus lugares no mundo, empoderando umas às outras e afirmando-se enquanto artistas.
Nesta exposição, estarão os resultados de um processo de expansão do fazer realizado ao longo de 2018. Foram convidadas três artistas – Lanussi Pasquali (BA), Vânia Medeiros (SP) e Valquíria Prates (SP) – para imersões criativas com as bordadeiras, com a premissa de produzir um trabalho têxtil a partir de suas próprias metodologias, ao longo de 40 dias cada uma. Temas, técnicas e referências diversos surgiram, e esta rica produção é que poderá então agora ser conferida pelo público. Trata-se, assim, da criação de mulheres negras da periferia soteropolitana, que produzem novos significados para seus cotidianos e revelam suas potências criativas, enquanto indivíduos produtores de discursos e belezas.
Com Lanussi Pasquali, o grupo trabalhou com alguns exercícios de descondicionamento do gesto para liberar o desenho e conheceu alguns nomes importantes da arte têxtil contemporânea, assim como artistas que trabalham com autonarrativas. Nesta proposta, elas bordaram fragmentos de suas memórias em réplicas de suas peças de roupas favoritas. Vânia Medeiros apresentou o pintor e arquiteto austríaco Friedensreich Hundertwasser e abordou também a arquitetura indígena, trazendo aspectos de design decolonial. Neste aprofundamento em noções de composição, os bordados tomaram formas geométricas. Por fim, Valquíria Prates trouxe a criação do artista e designer italiano Bruno Munari para inspirar a criação de narrativas. Cada uma criou um livro de pano com uma história contínua e fluida, tendo o desafio de utilizar uma paleta de cores menos vibrante, mais monocromática, assim como uma linha mais delicada.
Com produção da Multi Planejamento Cultural, “Bordar os Sonhos: O Ponto e A Linha no Bordado Contemporâneo” foi contemplado pelo Edital Setorial de Artes Visuais, tendo apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
Texto
Deslocamentos arte têxtil e convívio
Uma das principais inquietações que atravessa a produção da artista Flávia Bomfim tem raízes profundas em seu interesse pelo convívio que gera narrativas em forma de imagens: o desejo de questionar as fronteiras entre o fazer reflexivo das linguagens da arte contemporânea e as manualidades da produção de quem se dedica ao artesanato como forma de entrega a outras intencionalidades para a expressão estética.
Na produção de Flávia, a arte têxtil possibilita uma série de exercícios de deslocamento, a partir dos quais se desenvolvem relações imprevisíveis, tanto entre as pessoas envolvidas quanto com as materialidades e procedimentos da arte têxtil. Foi a partir deste tipo de intencionalidade de convívio e de "fazer junto" que a artista deu início ao projeto Bordar os Sonhos em 2013, no bairro de Sussuarana em Salvador, e posteriormente desenvolvido em Matarandiba, na ilha de Itaparica e em Barro Branco, comunidade remanescente de quilombo em Imbassaí.
Os encontros entre Flavia e as mulheres que integram o grupo; Isabel, Raimunda Luzia, Lindaura, Anália, Jucimar, Deyse, Lita, Neuza e Mariazinha; têm como principal elemento o compartilhamento e ressignificação de memórias, narrativas e práticas. Ao convergir o aprendizado técnico e histórico sobre os pontos e as maneiras de usá-los, propõe-se um contínuo exercício de elaborar leituras problematizadoras que integram processos de conscientização sobre o lugar da arte em nossas vidas e o nosso lugar – no mundo e nas relações. No convívio ininterrupto deste grupo de mulheres, os desenhos de Flavia passaram a integrar, junto de desenhos decorativos que as artesãs carregavam em seu repertório, dezenas de bordados em que uma gramática do corpo foi tomando forma a partir da partilha que se desdobrava em encontros semanais: partilhas de histórias de vida, do dia a dia, das posições e visões de mundo.
Em 2018, cria-se uma nova camada de colaboração com o grupo, desenvolvendo ao longo de um ano o projeto O Ponto e a linha no Bordado Contemporâneo. Ao convidar duas artistas e uma escritora para imersões de criação junto ao grupo de Sussuarana, a operação precisa possibilitou trocas profundas entre as envolvidas: mulheres em disponibilidade para tecer possíveis vínculos a partir dos processos de criação partilhados e mediados simultaneamente por todas.
Com fios e entrelaçamentos tão delicados e fortes como as teias das aranhas que inspiram as escolhas e gestos habilidosos ao conectar pessoas e processos para fazer junto - arte e vida.
Valquíria Prates
“Bordar os Sonhos” é um projeto de arte têxtil que nasce a partir de questionamentos sobre os critérios que definem e separam a arte e o artesanato. “A principal proposta de nossas ações é a criação de tempos para estarmos juntas, ativando o compartilhamento de relatos cotidianos e a produção individual e coletiva de narrativas e imagens através do bordado”, explica Flávia Bomfim, que desenvolve este trabalho em grupo desde 2013. A colaboração artística é atualmente composta por Anália, Deyse, Jucimar, Lindaura, Lita, Luzia, Maria Isabel, Mariazinha, Neuza e Raimunda. Elas se encontram todas as terças-feiras no Centro Comunitário Cultural de Sussuarana, para criar imagens com a técnica do bordado livre, construindo suas memórias e histórias, refletindo seus lugares no mundo, empoderando umas às outras e afirmando-se enquanto artistas.
Nesta exposição, estarão os resultados de um processo de expansão do fazer realizado ao longo de 2018. Foram convidadas três artistas – Lanussi Pasquali (BA), Vânia Medeiros (SP) e Valquíria Prates (SP) – para imersões criativas com as bordadeiras, com a premissa de produzir um trabalho têxtil a partir de suas próprias metodologias, ao longo de 40 dias cada uma. Temas, técnicas e referências diversos surgiram, e esta rica produção é que poderá então agora ser conferida pelo público. Trata-se, assim, da criação de mulheres negras da periferia soteropolitana, que produzem novos significados para seus cotidianos e revelam suas potências criativas, enquanto indivíduos produtores de discursos e belezas.
Com Lanussi Pasquali, o grupo trabalhou com alguns exercícios de descondicionamento do gesto para liberar o desenho e conheceu alguns nomes importantes da arte têxtil contemporânea, assim como artistas que trabalham com autonarrativas. Nesta proposta, elas bordaram fragmentos de suas memórias em réplicas de suas peças de roupas favoritas. Vânia Medeiros apresentou o pintor e arquiteto austríaco Friedensreich Hundertwasser e abordou também a arquitetura indígena, trazendo aspectos de design decolonial. Neste aprofundamento em noções de composição, os bordados tomaram formas geométricas. Por fim, Valquíria Prates trouxe a criação do artista e designer italiano Bruno Munari para inspirar a criação de narrativas. Cada uma criou um livro de pano com uma história contínua e fluida, tendo o desafio de utilizar uma paleta de cores menos vibrante, mais monocromática, assim como uma linha mais delicada.
Com produção da Multi Planejamento Cultural, “Bordar os Sonhos: O Ponto e A Linha no Bordado Contemporâneo” foi contemplado pelo Edital Setorial de Artes Visuais, tendo apoio financeiro do Governo do Estado, através do Fundo de Cultura, Secretaria da Fazenda, Fundação Cultural do Estado da Bahia e Secretaria de Cultura da Bahia.
Texto
Deslocamentos arte têxtil e convívio
Uma das principais inquietações que atravessa a produção da artista Flávia Bomfim tem raízes profundas em seu interesse pelo convívio que gera narrativas em forma de imagens: o desejo de questionar as fronteiras entre o fazer reflexivo das linguagens da arte contemporânea e as manualidades da produção de quem se dedica ao artesanato como forma de entrega a outras intencionalidades para a expressão estética.
Na produção de Flávia, a arte têxtil possibilita uma série de exercícios de deslocamento, a partir dos quais se desenvolvem relações imprevisíveis, tanto entre as pessoas envolvidas quanto com as materialidades e procedimentos da arte têxtil. Foi a partir deste tipo de intencionalidade de convívio e de "fazer junto" que a artista deu início ao projeto Bordar os Sonhos em 2013, no bairro de Sussuarana em Salvador, e posteriormente desenvolvido em Matarandiba, na ilha de Itaparica e em Barro Branco, comunidade remanescente de quilombo em Imbassaí.
Os encontros entre Flavia e as mulheres que integram o grupo; Isabel, Raimunda Luzia, Lindaura, Anália, Jucimar, Deyse, Lita, Neuza e Mariazinha; têm como principal elemento o compartilhamento e ressignificação de memórias, narrativas e práticas. Ao convergir o aprendizado técnico e histórico sobre os pontos e as maneiras de usá-los, propõe-se um contínuo exercício de elaborar leituras problematizadoras que integram processos de conscientização sobre o lugar da arte em nossas vidas e o nosso lugar – no mundo e nas relações. No convívio ininterrupto deste grupo de mulheres, os desenhos de Flavia passaram a integrar, junto de desenhos decorativos que as artesãs carregavam em seu repertório, dezenas de bordados em que uma gramática do corpo foi tomando forma a partir da partilha que se desdobrava em encontros semanais: partilhas de histórias de vida, do dia a dia, das posições e visões de mundo.
Em 2018, cria-se uma nova camada de colaboração com o grupo, desenvolvendo ao longo de um ano o projeto O Ponto e a linha no Bordado Contemporâneo. Ao convidar duas artistas e uma escritora para imersões de criação junto ao grupo de Sussuarana, a operação precisa possibilitou trocas profundas entre as envolvidas: mulheres em disponibilidade para tecer possíveis vínculos a partir dos processos de criação partilhados e mediados simultaneamente por todas.
Com fios e entrelaçamentos tão delicados e fortes como as teias das aranhas que inspiram as escolhas e gestos habilidosos ao conectar pessoas e processos para fazer junto - arte e vida.
Valquíria Prates