FLECHA
Milena Ferreira no MAC_BAHIA11 JUL - 24 AGO
Galeria 3:
Museu de Arte Contemporânea da Bahia
Curadoria e produção: RV Cultura e Arte
Agradecimentos: Ubirajara e Marilene Ferreira,
Tiago Sant’Ana, Daniel Rangel, Patrícia Paixão,
Andrea May, Ricardo Bezerra e Busca.
Galeria 3:
Museu de Arte Contemporânea da Bahia
Curadoria e produção: RV Cultura e Arte
Agradecimentos: Ubirajara e Marilene Ferreira,
Tiago Sant’Ana, Daniel Rangel, Patrícia Paixão,
Andrea May, Ricardo Bezerra e Busca.
“Aqui tudo ainda é construção e já é ruína”: versa Caetano Veloso inspirado nos escritos do antropólogo francês Claude Levi-Strauss. A frase, quase um aforismo, foi cunhada com o ensejo de discutir o desenvolvimento urbano e as novas inserções e categorizações do Brasil dentro de um contexto globalizado e intimamente ligado ao capital. Longe de uma tentativa de imagem ilustrativa, a citação parece se relacionar de maneira metafórica com aquilo que vem sendo produzido pela artista visual baiana Milena Ferreira. Não necessariamente uma relação de reiteração, mas um olhar para as transformações na urbanidade e nos atravessamentos dela nos corpos que farfalham pelas cidades.
As obras aqui reunidas questionam o binarismo entre construção, como algo novo, e ruína, como algo destruído pelo tempo ou por uma ação humana. Ao caminhar pela cidade com um olhar crítico e atencioso para as minúcias das tramas urbanas, Milena cartografa e colhe materiais-escombros, frutos de demolições e descartes. Na medida em que a artista recorre a um repertório de materiais, encontrados em diferentes geografias da cidade de Salvador, e os reinsere em um outro sistema de sensibilidade, construção e ruína se justapõem. Há uma fricção de tempos entre o agora – materializado por pinturas e desenhos autorais – e o tempo que já foi, a partir da presença de azulejos, tijolos, colunas e blocos carregados com as marcas de seus utilitarismos. De tal modo, Milena insiste num fazer do refazer, impetrando espécies de enxertias de camadas pintadas em cima de superfícies que já carregam em suas peles inscrições de acontecimentos.
As obras aqui reunidas questionam o binarismo entre construção, como algo novo, e ruína, como algo destruído pelo tempo ou por uma ação humana. Ao caminhar pela cidade com um olhar crítico e atencioso para as minúcias das tramas urbanas, Milena cartografa e colhe materiais-escombros, frutos de demolições e descartes. Na medida em que a artista recorre a um repertório de materiais, encontrados em diferentes geografias da cidade de Salvador, e os reinsere em um outro sistema de sensibilidade, construção e ruína se justapõem. Há uma fricção de tempos entre o agora – materializado por pinturas e desenhos autorais – e o tempo que já foi, a partir da presença de azulejos, tijolos, colunas e blocos carregados com as marcas de seus utilitarismos. De tal modo, Milena insiste num fazer do refazer, impetrando espécies de enxertias de camadas pintadas em cima de superfícies que já carregam em suas peles inscrições de acontecimentos.
As pinturas e desenhos compostas pela artista dão a ver uma série de objetos, cenas e situações ordenadas por objetos cotidianos. Através de utensílios empilhados, transversos ou em posição de descanso, as cenas fabuladas por Ferreira são típicas de ambientes domésticos, mas que adquirem um caráter instalativo ao juntar elementos de diferentes usos e origens. A artista então parece lançar mão de uma lupa, registrando à miúde esses gestos cotidianos que narram uma dimensão escultural e que possuem uma estranheza muito particular.
Um balde que descansa sob o assento de uma cadeira, um filtro que sustenta em seu topo uma planta, panelas que abraçam uma à outra para que o espaço seja melhor utilizado embaixo da pia. Esse tipo de paisagem familiar, muitas vezes arranjadas como uma estratégia de economia espacial, nostransporta para dentro do cotidiano dos lares. São cenas visuais, carregadas de memórias, que amontoam pequenas sensações, do cheiro terroso das quartinhas até o aspecto esverdeado-brilhante dos musgos na quina entre o chão e a parede.
Ao trazer essas combinações características do espaço privado inseridas em estruturas encontradas nas ruas, a artista nos propõe um caminho para imaginar que a vida íntima influencia na organização do espaço público, estabelecendo um lugar de porosidade, em que tudo se interpenetra e se influencia mutuamente, com a esfera pública se bordando na vida privada e vice-versa.
Um balde que descansa sob o assento de uma cadeira, um filtro que sustenta em seu topo uma planta, panelas que abraçam uma à outra para que o espaço seja melhor utilizado embaixo da pia. Esse tipo de paisagem familiar, muitas vezes arranjadas como uma estratégia de economia espacial, nostransporta para dentro do cotidiano dos lares. São cenas visuais, carregadas de memórias, que amontoam pequenas sensações, do cheiro terroso das quartinhas até o aspecto esverdeado-brilhante dos musgos na quina entre o chão e a parede.
Ao trazer essas combinações características do espaço privado inseridas em estruturas encontradas nas ruas, a artista nos propõe um caminho para imaginar que a vida íntima influencia na organização do espaço público, estabelecendo um lugar de porosidade, em que tudo se interpenetra e se influencia mutuamente, com a esfera pública se bordando na vida privada e vice-versa.
A exposição acontecer num antigo palacete da aristocracia baiana também parece dar uma outra camada considerável para as obras apresentadas. Os cacos, os blocos, a argamassa aparente presentes em alguns dos trabalhos exibidos contrastam com os ornamentos e vitrais inspirados por uma nostalgia europeia tardia. Os elementos pintados nas obras de Milena, ao trazer o cotidiano e os arranjos vistos em cenas e gambiarras cotidianas cartografadas nos espaços íntimos e nos espaços públicos de Salvador – presentes em plaquinhas de vendas, mesas, caixotes, eletrodomésticos, banquetas – depõem sobre uma cidade voltada para uma forte presença popular caracterizada pelas culturas negras e cuja inventividade transcende qualquer tentativa de classificação e submissão.
O contraste entre essas duas estruturas arquitetônicas, uma mapeada pela artista e outra consequência de uma série de tentativas de dominação cultural e que ainda hoje coloca a Europa numa posição de centralidade, escancara as próprias feridas das assimetrias sociais brasileiras, em que muitas vezes à moradia e ao bem viver são privilégios.
A permeabilidade - que pendula entre o público e o privado, entre o passado e o agora - faz com que a obra de Milena Ferreira seja caracterizada pelo trânsito do seu corpo numa complexa trama urbana e afetiva, erigindo mundos em que a flecha do tempo atravessa tanto intimidades quanto coletividades, em que ao mesmo tempo que tudo se arruína tudo se constrói.
Tiago Sant’Ana
Artista visual, curador e doutor em Cultura e Sociedade
O contraste entre essas duas estruturas arquitetônicas, uma mapeada pela artista e outra consequência de uma série de tentativas de dominação cultural e que ainda hoje coloca a Europa numa posição de centralidade, escancara as próprias feridas das assimetrias sociais brasileiras, em que muitas vezes à moradia e ao bem viver são privilégios.
A permeabilidade - que pendula entre o público e o privado, entre o passado e o agora - faz com que a obra de Milena Ferreira seja caracterizada pelo trânsito do seu corpo numa complexa trama urbana e afetiva, erigindo mundos em que a flecha do tempo atravessa tanto intimidades quanto coletividades, em que ao mesmo tempo que tudo se arruína tudo se constrói.
Tiago Sant’Ana
Artista visual, curador e doutor em Cultura e Sociedade






Ela, 2025
Milena Ferreira
acrílica sobre emboço, metal e folha de ouro
acrylic on cement render, metal and gold leaf
42x30x22cm





Esses são todos os lugares, 2025
Milena Ferreira
acrílica sobre escombro, vergalhão e folha de ouro
acrylic on rubble, rebar and gold leaf
22x184x6cm




Flecha, 2025
Milena Ferreira
acrílica sobre escombro, vergalhão e folha de ouro
acrylic on rubble, rebar and gold leaf
22x120x10cm

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo e bloco de barro
acrylic on ceramic tile and clay brick
170x24x22cm

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo e bloco de barro
acrylic on ceramic tile and clay brick
170x24x22cm

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo e bloco de barro
acrylic on ceramic tile and clay brick
170x24x22cm

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 9 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 8 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 10 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 10 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 7 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 9 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 15 partes

Milena Ferreira
acrílica sobre azulejo
acrylic on ceramic tile
políptico, 13 partes

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm

série Despejo, 2025
Milena Ferreira
pastel seco sobre papel
dry pastel on paper
100x70cm
MILENA FERREIRA
(Salvador, 1992)Investiga a estética da ruína como lugar de memória e pertencimento no cenário urbano. Reside e trabalha em Salvador, onde desenvolve uma produção artística com base nas suas vivências citadinas arruinadas em meio ao centro antigo. Projetos selecionados incluem participações em exposições como a 21ª Edição do Programa de Exposições do MARP (2024), em Ribeirão Preto, a 6ª Edição da Bienal do Sertão de Artes Visuais (2023), em Juazeiro do Norte, “Encruzilhadas da Arte Afro brasileira” com curadoria de Deri Andrade em itinerância através do CCBB (2023-2025), o 33º Programa de Exposições do Centro Cultural São Paulo (2024) e mais recentemente residência artística no Centro Cultural do Cariri Sérvulo Esmeraldo, através do programa Pivô Conexão (2025). Milena Ferreira também é uma das criadoras do CAB – Circuito de Arte em Boteco, em Salvador.