Figura Insólita
Cuadoria: Uriel BezerraArtistas: Adriano Machado, Aline Brune, Calasans Neto, Carlos Bastos, Edison da Luz, Felipe Rezende, Flávia Bomfim, Floriano Teixeira, Isabela Seifarth, Igor Souza, João José Rescala, Juarez Paraíso, Lênio Braga, Marcos da Matta, Matheus de Simone, Milena Ferreira, Pedro Marighella, Reinaldo Eckenberger, Sante Scaldaferri, Vânia Medeiros, Washington da Selva e Zé de Rocha.
26.04 a 01.07.2023
Release
A partir de 26 de abril, às 19h, a RV Cultura e Arte apresenta Figura insólita, exposição coletiva com curadoria de Uriel Bezerra que reúne mais de 20 artistas e 40 obras produzidas em momentos diversos dos últimos setenta anos em torno de um interesse em comum: a figuração.
A exposição propõe diálogos para além do acervo da RV Cultura e Arte, galeria que há 15 anos se dedica à produção contemporânea baiana, em especial ao desenho e a pintura, promovendo encontros entre diferentes gerações. Veteranos como Juarez Paraíso e Calasans Neto aparecem pela primeira vez na galeria ao lado de velhos conhecidos como Pedro Marighella e Igor Souza, além de novos nomes, a exemplo de Washington da Selva e Aline Brune.
Além de serem baianos ou produzirem na Bahia, o grupo reunido por Uriel Bezerra divide o desejo de investigar como as formas figurativas podem especular sobre a vida, olhando para além da realidade objetiva, apelando a situações no mínimo insólitas ou impalpáveis, portanto ao mitológico, ao fantástico, ao onírico e/ou à ficção científica. Observando esse enfoque em temas caros às artes visuais, tanto quanto à literatura e ao cinema, poderíamos dizer que a figuração atua aqui como uma maneira de metaforizar, simbolizar ou traduzir narrativas sobre outras realidades, concorrentes, invisíveis, ou a se concretizar.
“É interessante olhar para esse conjunto e perceber a persistência desses artistas tão diversos em trabalhar com a figuração, mas sempre testando seus limites para além de um retrato da realidade objetiva. Todos trabalham com imagens que diariamente acessamos através dos sonhos, da fantasia, das nossas predições sobre o futuro, ou mesmo da própria experiência no mundo, contudo, para recriá-la. A conquista dessa liberdade criativa foi garantida pelos modernistas, também presentes na exposição, e é radicalizada por nossos contemporâneos em diferentes linguagens que se atravessam bastante, ou seja, por meio do desenho, pintura, bordado, instalação, vídeo e fotografia”, completa o curador.
Entre as obras, a série “Orimar”, de Adriano Machado, remete a uma entidade metafórica que questiona as noções de liberdade e aprisionamento do ser, relacionando o visível e invisível por meio da materialidade de fotografias impressas em transparência, sobrepostas a paisagens. Em “Central da Bahia”, Isabela Seifarth utiliza referências de fotografias e vídeos de carnavais antigos para construir uma imagem da festa popular como o grande ponto de encontro da Bahia. A diversidade remete a uma estética do acúmulo e é permeada por referências ao barroco, seja na dualidade entre o público e o privado, ou o sagrado e o profano. Já o trabalho (título desconhecido) de Carlos Bastos, baiano da primeira geração modernista, revela seu profundo interesse pela figura humana que produziu cenas marcantes, onde o artista investiga o mítico, o onírico e até mesmo o erótico e o grotesco.
“A mostra é uma espécie de marco para nós, porque contextualiza, de alguma maneira, a prática que estamos desenvolvendo há 15 anos na galeria, revisitando a obra de artistas representados, ao mesmo tempo em que estabelece relações entre estas obras e um acervo de artistas icônicos para a Bahia e aproxima novos nomes e novas pesquisas à nossa própria curadoria” comenta Larissa Martina, sócia da galeria ao lado de Ilan Iglesias.
Figura insólitapoderá ser visitada até 01 de julho presencialmente na RV Cultura e Arte - de segunda a sexta, das 10:00 às 18:00 e aos sábados das 10:00 às 14:00; e de forma online, pelo site da galeria.
A partir de 26 de abril, às 19h, a RV Cultura e Arte apresenta Figura insólita, exposição coletiva com curadoria de Uriel Bezerra que reúne mais de 20 artistas e 40 obras produzidas em momentos diversos dos últimos setenta anos em torno de um interesse em comum: a figuração.
A exposição propõe diálogos para além do acervo da RV Cultura e Arte, galeria que há 15 anos se dedica à produção contemporânea baiana, em especial ao desenho e a pintura, promovendo encontros entre diferentes gerações. Veteranos como Juarez Paraíso e Calasans Neto aparecem pela primeira vez na galeria ao lado de velhos conhecidos como Pedro Marighella e Igor Souza, além de novos nomes, a exemplo de Washington da Selva e Aline Brune.
Além de serem baianos ou produzirem na Bahia, o grupo reunido por Uriel Bezerra divide o desejo de investigar como as formas figurativas podem especular sobre a vida, olhando para além da realidade objetiva, apelando a situações no mínimo insólitas ou impalpáveis, portanto ao mitológico, ao fantástico, ao onírico e/ou à ficção científica. Observando esse enfoque em temas caros às artes visuais, tanto quanto à literatura e ao cinema, poderíamos dizer que a figuração atua aqui como uma maneira de metaforizar, simbolizar ou traduzir narrativas sobre outras realidades, concorrentes, invisíveis, ou a se concretizar.
“É interessante olhar para esse conjunto e perceber a persistência desses artistas tão diversos em trabalhar com a figuração, mas sempre testando seus limites para além de um retrato da realidade objetiva. Todos trabalham com imagens que diariamente acessamos através dos sonhos, da fantasia, das nossas predições sobre o futuro, ou mesmo da própria experiência no mundo, contudo, para recriá-la. A conquista dessa liberdade criativa foi garantida pelos modernistas, também presentes na exposição, e é radicalizada por nossos contemporâneos em diferentes linguagens que se atravessam bastante, ou seja, por meio do desenho, pintura, bordado, instalação, vídeo e fotografia”, completa o curador.
Entre as obras, a série “Orimar”, de Adriano Machado, remete a uma entidade metafórica que questiona as noções de liberdade e aprisionamento do ser, relacionando o visível e invisível por meio da materialidade de fotografias impressas em transparência, sobrepostas a paisagens. Em “Central da Bahia”, Isabela Seifarth utiliza referências de fotografias e vídeos de carnavais antigos para construir uma imagem da festa popular como o grande ponto de encontro da Bahia. A diversidade remete a uma estética do acúmulo e é permeada por referências ao barroco, seja na dualidade entre o público e o privado, ou o sagrado e o profano. Já o trabalho (título desconhecido) de Carlos Bastos, baiano da primeira geração modernista, revela seu profundo interesse pela figura humana que produziu cenas marcantes, onde o artista investiga o mítico, o onírico e até mesmo o erótico e o grotesco.
“A mostra é uma espécie de marco para nós, porque contextualiza, de alguma maneira, a prática que estamos desenvolvendo há 15 anos na galeria, revisitando a obra de artistas representados, ao mesmo tempo em que estabelece relações entre estas obras e um acervo de artistas icônicos para a Bahia e aproxima novos nomes e novas pesquisas à nossa própria curadoria” comenta Larissa Martina, sócia da galeria ao lado de Ilan Iglesias.
Figura insólitapoderá ser visitada até 01 de julho presencialmente na RV Cultura e Arte - de segunda a sexta, das 10:00 às 18:00 e aos sábados das 10:00 às 14:00; e de forma online, pelo site da galeria.
Texto curatorial
A ideia desta exposição surgiu diante da efeméride de quinze anos da galeria RV Cultura e Arte, logo, é oportuno lançar um olhar ampliado sobre a sua presença no cenário artístico baiano. Começo por um esboço baseado em seu programa: artistas baianas(os) e residentes em Salvador, cujo trabalho consiste na produção de imagens manuais - em especial a pintura e o desenho - com ênfase às formas figurativas. Esse quadro é tão amplo quanto restritivo, porém pode ser um sintoma histórico.
Face aos grandes centros onde o modernismo se consolidou com a conquista da abstração plena, na Bahia, a exemplo de outras localidades, essa busca se tornou um problema secundário. Ainda hoje a figuração persiste como elemento central na formação artística local, sobretudo após o advento da imagem digital. Diante disso, quais leituras podemos construir a partir de um panorama tão extenso? Figura Insólita é um esforço nesse sentido, porém partindo do acervo da galeria para o seu entorno.
Emprestada da literatura, a ideia de insólito reside principalmente nas narrativas de ficção especulativa, ou seja, nas histórias de caráter fantástico, científico e sobrenatural. Refere-se a uma imagem que irrompe a trama com o objetivo de desenvolver ou resolver conflitos, podendo assim encarnar várias figuras, que em maior ou menor proporção se descredenciam do realismo, ou seja, quimeras, seres híbridos, mitológicos, deusas e deuses, ciborgues etc. Todavia, para além da dinâmica interna às narrativas ficcionais, a criação destas imagens possui razões mais profundas.
Ursula Le Guin, autora de "A Teoria da Bolsa de Ficção", lança um olhar sobre a ficção científica que convém à nossa investigação. Para ela, o gênero não se pretende predição, mas um mergulho na contingência sob a máxima “e se…”. Trata-se de uma indagação sobre a vida que resiste à produção de sentido imposta pelo mundo real, em outras palavras, propondo encontros com o imaginário, onde lidamos com o desconhecido, o extraordinário, o impalpável.
Alguns das(os) artistas aqui reunidas(os) parecem seguir religiosamente esse princípio, tendo por ponta de lança Juarez Paraíso, que já comparou diversas vezes a vida na Bahia e em Salvador com uma experiência de ficção científica. Além dele, podemos destacar o bestiário de Carlos Bastos e Isabela Seifarth, as fantasias eróticas e grotescas de Floriano Teixeira, Reinaldo Eckenberger, Sante Scaldaferri, os encontros oníricos e fantásticos de Aline Brune, Calasans Neto, Igor Souza e Edison da Luz; a cenografia urbana de Matheus de Simone, Milena Ferreira, Pedro Marighella e João José Rescala; a autoficção e corpos fragmentados de Flávia Bomfim, Vânia Medeiros, Zé de Rocha e Felipe Rezende; bem como as utopias e distopias sociais de Adriano Machado, Marcos da Matta e Washington da Selva.
Embora ocupem espaço farto em nossa cultura visual - curiosamente há uma série recente da Marvel Studios chamada “What if…” - até pouco tempo estas imagens e narrativas nutriam pouco prestígio ou apareciam sobrepostas à outras leituras nas artes visuais, ora por não pertencerem à ordem do dia (a busca por uma identidade nacional ou regional), ora por representar uma cultura de consumo menor. Dito isso, convido a quem visitar a exposição para se sentir livre em perguntar: “E se?”
Uriel Bezerra
Referências
BUTLER, Octavia E. IMAGO. Xenogenesis #3. Editora Morro Branco: São Paulo, 2021
GONÇALVES, Rosa Gabriella de C. O surrealismo envergonhado. ARS (São Paulo), 20(45), 267-297, 2022.
LE GUIN, Ursula K. A teoria da bolsa de ficção. Ilustrações: Gê Viana. n-1 edições: São Paulo, 2021
LACAN, Jacques Lacan. Entrevista a Emilio Granzotto. Publicada por Magazine Littéraire, Paris, n.428, fev/2004.
Agradecimentos
Evandro Sybine
Josemar Antonio
Pedro Marighella
Sarah Hallelujah
Face aos grandes centros onde o modernismo se consolidou com a conquista da abstração plena, na Bahia, a exemplo de outras localidades, essa busca se tornou um problema secundário. Ainda hoje a figuração persiste como elemento central na formação artística local, sobretudo após o advento da imagem digital. Diante disso, quais leituras podemos construir a partir de um panorama tão extenso? Figura Insólita é um esforço nesse sentido, porém partindo do acervo da galeria para o seu entorno.
Emprestada da literatura, a ideia de insólito reside principalmente nas narrativas de ficção especulativa, ou seja, nas histórias de caráter fantástico, científico e sobrenatural. Refere-se a uma imagem que irrompe a trama com o objetivo de desenvolver ou resolver conflitos, podendo assim encarnar várias figuras, que em maior ou menor proporção se descredenciam do realismo, ou seja, quimeras, seres híbridos, mitológicos, deusas e deuses, ciborgues etc. Todavia, para além da dinâmica interna às narrativas ficcionais, a criação destas imagens possui razões mais profundas.
Ursula Le Guin, autora de "A Teoria da Bolsa de Ficção", lança um olhar sobre a ficção científica que convém à nossa investigação. Para ela, o gênero não se pretende predição, mas um mergulho na contingência sob a máxima “e se…”. Trata-se de uma indagação sobre a vida que resiste à produção de sentido imposta pelo mundo real, em outras palavras, propondo encontros com o imaginário, onde lidamos com o desconhecido, o extraordinário, o impalpável.
Alguns das(os) artistas aqui reunidas(os) parecem seguir religiosamente esse princípio, tendo por ponta de lança Juarez Paraíso, que já comparou diversas vezes a vida na Bahia e em Salvador com uma experiência de ficção científica. Além dele, podemos destacar o bestiário de Carlos Bastos e Isabela Seifarth, as fantasias eróticas e grotescas de Floriano Teixeira, Reinaldo Eckenberger, Sante Scaldaferri, os encontros oníricos e fantásticos de Aline Brune, Calasans Neto, Igor Souza e Edison da Luz; a cenografia urbana de Matheus de Simone, Milena Ferreira, Pedro Marighella e João José Rescala; a autoficção e corpos fragmentados de Flávia Bomfim, Vânia Medeiros, Zé de Rocha e Felipe Rezende; bem como as utopias e distopias sociais de Adriano Machado, Marcos da Matta e Washington da Selva.
Embora ocupem espaço farto em nossa cultura visual - curiosamente há uma série recente da Marvel Studios chamada “What if…” - até pouco tempo estas imagens e narrativas nutriam pouco prestígio ou apareciam sobrepostas à outras leituras nas artes visuais, ora por não pertencerem à ordem do dia (a busca por uma identidade nacional ou regional), ora por representar uma cultura de consumo menor. Dito isso, convido a quem visitar a exposição para se sentir livre em perguntar: “E se?”
Uriel Bezerra
Referências
BUTLER, Octavia E. IMAGO. Xenogenesis #3. Editora Morro Branco: São Paulo, 2021
GONÇALVES, Rosa Gabriella de C. O surrealismo envergonhado. ARS (São Paulo), 20(45), 267-297, 2022.
LE GUIN, Ursula K. A teoria da bolsa de ficção. Ilustrações: Gê Viana. n-1 edições: São Paulo, 2021
LACAN, Jacques Lacan. Entrevista a Emilio Granzotto. Publicada por Magazine Littéraire, Paris, n.428, fev/2004.
Agradecimentos
Evandro Sybine
Josemar Antonio
Pedro Marighella
Sarah Hallelujah