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“Há Risco” é uma mostra essencialmente gráfica, na qual a polissemia da palavra risco é tratada como fio condutor para a apresentação das obras do artista Zé de Rocha, divididas em três momentos: o traço apurado do carvão, o traçar arriscado da espada de fogo, e o risco como catalizador de um novo traço.

No primeiro momento o artista se apresenta com grande domínio técnico, dono de um traço forte, preciso, definitivo, recriando, a partir de uma ferramenta quase rudimentar, um emaranhado de linhas retorcidas, gráfica e plasticamente complexas.

Em seguida, a iconografia de Zé de Rocha revela a violência das espadas, através das marcações feitas em tela, e o risco de utilizar o próprio artefato – presente quando se autorretrata como espadeiro. A relação muito próxima que pode existir entre o traço e o risco está aqui representada.
Por fim, a causalidade entre os dois elementos centrais de seu discurso põe o artista à prova, forçando-o a reaprender a traçar as imagens, desenhando sua mão direita com a mão esquerda, depois de um acidente de trabalho, em um exercício que discorre não só sobre o comprometimento com a sua arte, mas também sobre a reconstrução do saber técnico.

As obras aqui reunidas, produzidas ao longo de mais de cinco anos, são a memória dos processos artísticos aos quais Zé de Rocha se dedica, tendo sempre como ponto de partida o desenho. Algumas apresentadas ao público pela primeira vez, as peças criam uma imagem perfeita do artista que está pronto a se arriscar para traçar seu nome do cenário da arte contemporânea.

Larissa Martina




Os desenhos de Zé de Rocha partem de observações sobre o traço, o risco, a matéria e o uso sociocultural que se faz da imagem. Vemos, com isso, o artista elaborar desenhos em escalas variadas, partindo do uso da linha. Configuram-se, em alguns momentos, cenas de narrativas populares, como as brincadeiras juninas de guerra de espada, onde os brincantes se enfrentam com artefatos pirotécnicos. Em outro sentido, Zé reelabora cenas de acidentes que se tornaram corriqueiras, desde o advento da fotografia e, hoje, continuam circulando nos meios de massa.

A imagem permanece como uma espécie complexa de intermediação entre as pessoas e a realidade. A imagem se configurou, historicamente, como uma vontade de restituir o que havia sido separado, pelo tempo, pela morte. Assim, foi usada com a condição de comprovação, mítica ou histórica. Nas tentativas de verificação, vimos tecidos guardarem vestígios, véus de Verônica virarem sudários para adoração coletiva. De outro modo, a fotografia analógica se adaptou a ocupar a presença do real, como se houvesse a impressão de um corpo, uma cena congelada, uma pegada.

Zé de Rocha elabora, então, uma visão atualizada sobre tais usos históricos da imagem, ao assinalar a polissemia da palavra “risco”, etimologicamente ligada aos gestos de separação, anulação, corte. Nos desenhos do artista, a linha demarca fronteiras, contorna acontecimentos narrativos, explicita o perigo, garante a sobrevivência da imagem. Sim, a imagem, no trabalho do artista, sobrevive ao atrito do carvão e da pólvora sobre o papel, permanecendo, ainda que ameaçada pela incineração, como rastro, rastilho.


O desenho de Zé de Rocha constrói-se no espetáculo, evidencia uma espécie de esgotamento da imagem: ônibus destruídos, carros amassados, pneus esgarçados. Com isso, ora atentamos para a extenuação dos materiais próprios ao desenho, como o carvão, o sanguínea, ora percebemos que a própria imagem está prestes a se desfazer.

Com os mesmos instrumentos utilizados na guerra de espadas, o desenho do artista excede limites, arriscando-se ao desaparecimento. O fogo, então, se torna elemento narrativo, desfazendo o rosto de homens que se exibem em dorso nu. O fogo é uma das mais importantes invenções humanas, roubada da natureza, não pela tentativa de produção de faíscas, mas pela capacidade de conservação. Os desenhos de Zé de Rocha, guardam, então, esta proximidade com a técnica que se utiliza da natureza (o fogo). Meios e fins se proliferam, mantendo-se em diálogo, abusando da capacidade de gerar sentido. E, assim, a imagem volta a exercitar seu poder de magia, como no sudário, já que os gestos dos atores se aproximam da prestidigitação, do ilusionismo. Os desenhos de Zé de Rocha são iluminações, êxtases, magia: nomeações distintas para os riscos da arte.

Marcelo Campos



Ficha técnica

Curadoria
Larissa Martina
Coordenação Geral
RV Cultura e Arte
Produção Executiva
Ilan Iglesias
Projeto Expográfico
RV Cultura e Arte
Projeto 3d
APSP Arquitetos Associados
Projeto Gráfico
Alltera Comunicação
Assessoria de Comunicação
Alltera Comunicação





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