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Felipe Rezende

Salvador, 1994
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︎ VIEWING ROOM︎     SONHO, QUEDA LIVRE
︎ TERRITÓRIOS MOVEDIÇOS

Felipe Rezende trabalha sobretudo com a pintura, o desenho e suas possibilidades expansivas, constituindo um encontro com o cotidiano e elementos nele contidos. O labor e as deambulações, o entorno e seus restos, as pequenas histórias e os casos de dimensão pública servem de material para construção de narrativas visuais num liame entre ficção e realidade.

Sobre seu trabalho, a curadora Amanda Carneiro escreveu: “Tradicionalmente associado a um papel preliminar no processo de produção, o desenho foi concebido como subsidiário na criação de trabalhos de arte, muitas vezes retirado da vista do público em favor da pintura ou escultura. Voltados para instalações específicas do local, baseadas em impressões gráficas que não desvinculam a experiência estética do objeto como forma autônoma ou apenas suporte, nos trabalhos de Felipe Rezende os desenhos não são parte preparatória mas linguagem direta, íntima e reveladora de sua expressão artística’.

Projetos selecionados incluem as exposições individuais Ladeira da fonte na Mouraria 53, e viewing room, na RV Cultura e Arte, ambas em Salvador, e Long is the road na galeria Jack Bell, em Londres; coletivas no Museu de Arte Moderna da Bahia e Museu da Cultura Afrobrasileira, no Brasil, e experiências em Portugal e no México; além de residências no Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto e no programa Pivô Pesquisa. Em 2020 Felipe foi um dos três artistas premiados na 7ª edição do Prêmio EDP nas Artes e em 2022 uma de suas obras da série Quem rouba meu sono? passa a fazer parte da coleção permanente do MAM Bahia.
Felipe Rezende works mainly with painting, drawing and its expansive possibilities, constituting an encounter with urban daily life and menial elements contained therein. Labor and wanderings, the surroundings and its remains, small stories and cases of public dimension serve as material for the construction of visual narratives in a link between fiction and reality.

About his work, curator Amanda Carneiro wrote: “Traditionally associated with a preliminary role in the production process, drawing was conceived as a subsidiary in the creation of
works of art, often removed from public view in favor of painting or sculpture. Aimed at specific installations of the place, based on graphic impressions that do not untie the aesthetic experience of the object as an autonomous form or only support, in the works of Felipe Rezende the drawings are not a preparatory part but a direct, intimate and revealing language of his artistic expression '.

Selected projects include solo exhibitions Ladeira da Fonte at Mouraria 53, viewing room at RV Cultura e Arte, both in Salvador, and Long is the road at Jack Bell gallery, in London; collective exhibitions at Museu de Arte Moderna da Bahia and Museu da Cultura Afrobrasileira, in Brazil, and experiences in Portugal and Mexico; in addition to residencies at the Instituto de Arte Contemporânea de Ouro Preto and at Pivô Pesquisa program. In 2020 Felipe was one of the three award-winning artists in the 7th edition of the EDP nas Artes Award and in 2022 one of his works from the series Quem rouba meu sono? becomes part of the permanent collection of MAM Bahia.

Obras disponíveis








Tradicionalmente associado a um papel preliminar no processo de produção, o desenho foi concebido como subsidiário na criação de trabalhos de arte, muitas vezes retirado da vista do público em favor da pintura ou escultura. Voltados para instalações específicas do local, baseadas em impressões gráficas que não desvinculam a experiência estética do objeto como forma autônoma ou apenas suporte, nos trabalhos de Felipe Rezende os desenhos não são parte preparatória mas linguagem direta, íntima e reveladora de sua expressão artística.

Criados em uma perspectiva bastante subjetiva, de um lado, e com base em um conjunto de interesses relacionados ao trabalho, suas ferramentas e detritos, por outro, os desenhos de Felipe se compõem sobre uma dedicada atenção a ações e gestos comumente despercebidos, naturalizados como parte regular da vida. O artista sugere que comportamentos e experiências, ao serem tratados como ordinários ou mesmo mecânicos, podem perder seu vigor reflexivo – estão por toda parte e, ao mesmo tempo, em lugar nenhum. Alicerçado nas minúcias do dia a dia, que estão imbuídas de contradições, ele parece nos direcionar a um ato de afirmação: aqui está o valor.

À medida que o valor se concentra cada vez mais no objeto, e a pessoa que o produz, não raro, é percebida como mais um instrumento, reforça-se o fluxo e a fragmentação do mundo social. Mas, diferentemente do que ocorre nesse processo de alienação, aqui ferramenta e pessoa se reposicionam em uma peça integrada com conotações convergentes, sem qualificar o trabalho como algo heroico, tampouco como supérfluo.

Os suportes para os desenhos de Felipe Rezende são frequentemente encontrados em suas caminhadas pela cidade, constantes canteiros de obras. Segundo ele, “o desenho impede que o artista pare. Andando cabisbaixo nas ruas eu acabo por encontrar coisas, eleger materiais e atribuir identidade aos detritos. Daí é que vem meu impulso gráfico”. Esses encontros e trocas de materiais e histórias assumem um terreno comum de experiências compartilhadas com pessoas e objetos, permitindo a consideração do efeito do cotidiano sob um teor profundamente político: amplificar vozes abafadas no barulho dos grandes centros urbanos.

Há ainda algo que retoma o brutalismo no seu inverso: os grandes blocos de concreto bruto são aludidos pelos seus escombros, agora personificados. Embora parte da estrutura, são descartados, matéria vista como barata, assim como o trabalho físico é relegado a baixas posições nas hierarquias de dominação intelectual. Esses trabalhos fazem parte de uma série intitulada “Inventário arqueológico confabulado”, em que capacetes, blocos de madeira ou de pedra, ossos e piso tátil ganham inscrições de trabalhadores da construção civil e, assim, sobrevida. Concentrando-se na forma do detrito, Rezende explora várias maneiras de inserção dos seus traços no espaço do objeto ou expositivo, nas quinas que podem remeter a encontros ou deslocamento, e nas bases que indicariam sustentação. Seus trabalhos operam simultaneamente uma exploração reflexiva da prática do desenho – a partir da relação entre figura e fundo – e das características e especificidades do meio, gerando uma relação produtiva entre um sistema de representação e sua execução material.

Amanda Carneiro, curadora e membro do juri da 7ª edição do Prêmio EDP na Artes.

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