GRANDE PEQUENO, SOU EU


exposição de Igor Souza
13 DEZ 25 - 21 FEV 26






Com um longo processo de pesquisa que traz as sabedorias provindas da capoeira como metodologia de construção da imagem, Igor Souza apresenta em sua produção mais recente um conjunto de trabalhos que atravessa a gestualidade da gingada, do salto, da roda e dos ensinamentos astuciosos e curvos de quem aprende com o corpo, que compreende o entre lugar que envolve a leveza da pisada e a força que finca a sola do pé no chão.

Em trânsitos que envolvem a figuração e a abstração, seus trabalhos, que não costumam ganhar título, envolvem e referenciam ao jogo-dança da capoeira de distintas formas. Em alguns casos, essas relações estão na representação, em cenas que habitam o nosso imaginário e que nos aproximam da pintura. Em outros, são parte dos meandros que constroem o processo do trabalho, que se presentifica em dimensionalidades de rasgos entre cor e linha, de infiltrações de corpos em movimento com manchas alongadas e quebradiças, em entradas e saídas necessárias nas pausas e continuidades do fazer artístico.

GRANDE PEQUENO, SOU EU carrega consigo a noção de que grandeza nem sempre é sinônimo de dimensões alargadas, de hierarquias ou poderes exercidos. Ao convocar o “grande pequeno”, o artista relembra que na filosofia da capoeira essas palavras revelam o movimento da vida entre o vai e vem, o ser e o não ser, o estar e o não estar, o visível e o invisível. Não é sobre diminuir-se ou aumentar-se, mas sobre se manter no fluxo contínuo da inconstância tão própria da vida.

A relação com o tempo é outro fator particularizado no fazer de Igor Souza. Um tempo que envolve contradições, anacronismos, conflitos, mas também descanso, repouso e pausa. A imagem é elaborada com delongas que a colocam frente às necessidades que o tempo, o olhar e o momento confluem. Igor Souza comenta que suas obras surgem em coletivo, em rotação não linear, onde a camada inserida no percurso de uma imagem gera extensão em outra, ruidando e complementando.

A cor é um elemento intensamente capturado em suas pinturas. Mesmo que algumas tonalidades tomem mais presença, ao observar o conjunto, elas perdem suas centralidades, retornando a dicotomia entre “grande-pequeno”, entre ser e não ser.

Em distintas direções, as linhas e manchas marcam a imagem. Retas, curvas, quebras, torções, continuidades e interrupções. Imagens pouco definidas, turvas. Nos lembram aquele momento que ficamos com o rosto colado na janela de um avião, hipnotizados com as grandezas e pequenices da terra e da vida. Parecem nos convidar a ativar esse olhar aéreo, nos fazendo sentir em sobrevoo à diferentes territórios, que por vezes, estão demarcados, desmatados, invadidos, e em outras, florestados, cultivados, povoados. Em labirintos encontramos pequenos-grandes ou grandes-pequenos corpos. O que fazem ali? Que caminhos percorreram ou farão? Quais as saídas possíveis? Encurralados ou expandidos? O estar em processo é uma constância nas obras, que diz sobre a sua imagem e seu tempo.  Parecem visões entre o céu e a terra.

Ao transpor o “grande pequeno” para a imagem, indagamos os gestos de suas colagens e pinturas. Entre recortes e pinceladas, levamos nosso imaginário investigativo para olhar cada canto da obra, em conversas através do corpo que aproxima e afasta, que busca reconhecer ali indagações que também possam ser suas. Em um ato de abertura para o complemento da obra, Igor Souza relembra ao público, e vice-versa, que capoeira não se joga sozinho, que nem artista e nem visitantes conseguem organizar a roda sem estabelecerem conexões entre si, sem convocarem a instância da capoeira e de suas liberdades na ação do ver, olhar e pensar.

GRANDE PEQUENO, SOU EU demonstra ser um convite para indagações com a visualidade, com o espaço e o trânsito, entre o corpo coletivo e o individualizado, entre os momentos que reivindicamos posicionamentos com aqueles em que nada podemos ou devemos saber. São processos que ensinam a capoeira em sua dimensão de ensino, de escola-viva, que avisa o momento de ouvir e de falar, de sentar e levantar, de entrar e sair. Não há dimensões únicas para as imagens e os corpos que as confrontam, porém, mesmo em experiências distintas, a capoeira nos reúne em entrecruzamentos de pausas e movimentos que ativamente nos demonstram a vivacidade e o desejo da descoberta do que podemos fazer, criar e imaginar junto à ela. Que façamos dessa partilha do olhar através da produção de Igor Souza uma ação significativa em nós, com nós e para nós. Que cada mancha de cor ou pequeno corpo desprendido do imaginário do artista possa gingar conosco, rodopiando e cantando em perguntas constantes, que não visam respostas, mas toadas que nos fazem presentes. 

Luciara Ribeiro

With a long research process that draws on the wisdoms of capoeira as a way of shaping the image, Igor Souza presents in his most recent body of work a constellation of pieces traversed by the gestures of the rocking stance, the leap, the circle, and the curved, cunning teachings of those who learn through the body—those who inhabit that in-between space where the lightness of the step meets the force that anchors the sole of the foot to the ground.

Oscillating between figuration and abstraction, his works—rarely granted titles—engage the game-dance of capoeira in multiple forms. At times, this relationship appears representationally, evoking scenes that dwell in our collective imagination and bring us closer to painting. At others, it resides in the meanderings of process itself—made visible in dimensionalities of rifts between color and line, in infiltrations of bodies in motion rendered as elongated, brittle stains, in the necessary entrances and exits embedded in the pauses and continuities of artistic making.

GRANDE PEQUENO, SOU EU carries the understanding that greatness does not necessarily depend on expanded dimensions, hierarchies, or exerted power. By calling forth the “great small,” the artist reminds us that, within the philosophy of capoeira, these words reveal life’s constant movement: between coming and going, being and unbeing, presence and absence, the visible and the invisible. It is not a matter of diminishing or magnifying oneself, but of dwelling in the continuous flow of life’s inherent instability.

Time is another essential element in Igor Souza’s practice. A time shaped by contradictions, anachronisms, and conflicts, yet also by rest, repose, and pause. The image emerges slowly, responding to the convergences of time, gaze, and moment. Souza describes his pieces as arising collectively, in a non-linear rotation, where the layer added to one image extends into another, generating resonance, friction, and complementarity.

Color is intensely seized within his paintings. Even when certain tones gain prominence, they lose their centrality when considered within the whole, returning us once more to the tension between “great-small” between being and not being.

Lines and stains carve their presence across the surface—straight, curved, broken, twisted, continuous, interrupted. Images loosely rendered, softly blurred. They recall that moment when we press our face against an airplane window, hypnotized by the vastness and smallness of the earth, of life. They seem to invite an aerial gaze, placing us in flight over shifting territories—at times demarcated, deforested, invaded; at others, forested, cultivated, inhabited. Within labyrinths, we encounter small-great or great-small bodies. What brings them there? What paths have they taken or will they trace? Which exits are possible? Are they enclosed or expanded? This sense of “being in process” is a constant throughout the works—one that speaks of their image and their time. They are visions suspended between earth and sky.

As the “great small” is transposed to the image, we are invited to question the gestures within his collages and paintings. Between cutouts and brushstrokes, our investigative imagination is drawn into each fold of the work, in conversations through the body—approaching, withdrawing—seeking to recognize within it questions that may also be our own. In an act of opening the work to completion, Igor Souza reminds the public—and the public, in turn, reminds him—that capoeira is never played alone, that artist and visitors alike cannot form the circle without establishing mutual connections, without invoking capoeira’s presence and its freedoms in the acts of seeing, looking, and thinking.

GRANDE PEQUENO, SOU EU becomes an invitation to inquire through visuality, space, and movement—between the collective and the individual body, between moments in which we affirm positions and those in which we can or must know nothing. These are processes that teach capoeira in its living-school dimension, signaling when to listen and when to speak, when to sit and when to rise, when to enter and when to leave. There are no singular dimensions for the images or the bodies that confront them; yet, even in divergent experiences, capoeira gathers us in crossings of pause and motion that testify to life’s vitality and to our desire to discover what we can do, create, and imagine alongside it.

May this shared gaze woven through the work of Igor Souza become a meaningful gesture in us, with us, and for us. May each stain of color or small body released from the artist’s imagination sway with us, spinning and singing in continuous questions—questions not in search of answers, but of melodies that call us into presence.

Luciara Ribeiro







série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
150x100cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

Kalunga, série Grande pequeno, sou eu
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x200cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

colagem e acrílica sobre papel [collage and acrylic on paper]
20x20cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025


série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x200cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

Luvemba, série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
políptico [polyptich], 100x200cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x50cm
2025

série Grande pequeno
Igor Souza

acrílica sobre tela [acrylic on canvas]
100x100cm
2025





IGOR SOUZA

(Salvador, 1981)

Atua como artista visual, roteirista e diretor de audiovisual. Em suas pinturas, seres antropomórficos emanam de meios caóticos. São corpos imprecisos espalhando um rastro, enquanto também se tornam ambiente. Espíritos que se incorporam em tramas de cores, em ritmos de formas, evocando imagens do inconsciente. Reflexos de memórias ancestrais.

Além das exposições individuais apresentadas em Salvador, Igor já teve suas obras expostas em Berlin, Porto, Nova York, Moscou e Paris. Em 2022 uma de suas obras da série CO_ LAPSO (2021) passa a fazer parte do acervo permanente do MAM Bahia, sendo repassada ao recém-inaugurado Museu de Arte Contemporânea da Bahia, em 2024.

Outras experiências incluem as animações Entroncamento (2017) e Aventuras de Amí (2018), além do premiado documentário Diário de Classe (2017), todos criados em parceria com Maria Carol. Publicações incluem o livro de artista TRES (2011), em conjunto com Fiona Kelly, a crônica gráfica Quanta (2023), em parceria com Daniel Farias, e a novela gráfica Rocha Navegável (2020), roteirizada por Fábio Costa e finalista ao Prêmio Jabuti 2021.

IGOR SOUZA

(Salvador, 1981)

Works as visual artist, screen writer and director. In his paintings, anthropomorphic beings emanate from chaotic environments. Imprecise bodies spreading a trail while also becoming their surroundings. Spirits that incorporate themselves into weaves of colors, in rhythms of forms, evoking images from the unconscious. Reflections of ancestral memories.

In addition to solo exhibitions presented in Salvador, Igor has already had his works exhibited in Berlin, Porto, New York, Moscow and Paris. In 2022, one of his works from the CO_LAPSO series (2021) became part of the permanent collection of MAM Bahia, being transferred to the newly inaugurated Museum of Contemporary Art of Bahia, in 2024.

Other experiences include the animations Entroncamento (2017) and Aventuras de Amí (2018), as well as the award-winning documentary Diário de Classe (2017), all created in partnership with Maria Carol. Publications include the artist's book TRES (2011), in collaboration with Fiona Kelly, the graphic chronicle Quanta (2023), in partnership with Daniel Farias, and the graphic novel Rocha Navegável (2020), scripted by Fábio Costa and a finalist for the 2021 Jabuti Prize.


Ilan Iglesias  fotografias [photography]
Larissa Martina  
gestão curatorial [curatorial management]
Luciara Ribeiro  
texto crítico [critical essay] 
Philipe Sabota Estevão assistência de produção [production assistance]  RV Cultura e Arte  produção e montagem [production and assembly]
Para mais informações sobre as obras disponíveis
[for more information on available works]

+55 71 33474929
contato@rvculturaearte.com

NEWSLETTER     WHATSAPP    EMAIL     INSTAGRAM