Pequeno retorno à terra
Rômolo29/03 a 01/05/2021
Release
A partir de 29 de março, a RV Cultura e Arte apresenta, em formato presencial e online, o projeto Pequeno retorno à terra, viewing room do artista paranaense Rômolo, com texto de Paula Borghi.
Na exposição, Rômolo apresenta trabalhos em pintura, colagem, gravura e escultura, frutos de uma residência de sete meses na cidade de Oaxaca, no México. As obras partem da pesquisa do artista, relacionada aos seus cadernos de viagem, e refletem as experiências de imersão na cultura local e os encontros proporcionados pelo deslocamento. “E mesmo falando sobre alteridade, é preciso enfatizar que sua obra não se põe a serviço da construção do exótico e do monumental, pelo contrário, o respeito com as demais culturas e com a natureza, principalmente com os trabalhadores da terra, é o que faz sua produção ser tão potente. Não somente existe uma consciência do lugar de fala, como também uma reverência ao local, como se sua obra homenageasse a pluralidade e a diversidade da vida”, completa Paula Borghi.
Sobre a produção incluída no projeto, vale destacar as esculturas em cerâmica, reflexo da grande presença de utensílios de tradição mesoamericana no dia a dia em Oaxaca; colagens sobre papel, influenciadas pelo modernismo latino-americano; e as litogravuras, produzidas com acompanhamento de maestros mexicanos. Sobre elas, o próprio artista analisa: “as litografias estão mais próximas da ideia de uma narrativa, como os cadernos de viagem, de um registro mais visual do que de um trabalho mais de abstração, como são as telas ou como são as colagens. Talvez pela limitação do material – foi, sem dúvida, um desafio trabalhar o preto e branco, que não é comum na minha obra, mas também porque era um processo novo para mim”.
Pequeno retorno à terra pode ser visitado online pelo site da galeria (www.rvculturaearte.com) até 01 de maio e traz ainda textos, imagens de referência e vídeos sobre as obras e o artista. As visitas presenciais também poderão ser feitas, de acordo com os decretos sanitários.
A partir de 29 de março, a RV Cultura e Arte apresenta, em formato presencial e online, o projeto Pequeno retorno à terra, viewing room do artista paranaense Rômolo, com texto de Paula Borghi.
Na exposição, Rômolo apresenta trabalhos em pintura, colagem, gravura e escultura, frutos de uma residência de sete meses na cidade de Oaxaca, no México. As obras partem da pesquisa do artista, relacionada aos seus cadernos de viagem, e refletem as experiências de imersão na cultura local e os encontros proporcionados pelo deslocamento. “E mesmo falando sobre alteridade, é preciso enfatizar que sua obra não se põe a serviço da construção do exótico e do monumental, pelo contrário, o respeito com as demais culturas e com a natureza, principalmente com os trabalhadores da terra, é o que faz sua produção ser tão potente. Não somente existe uma consciência do lugar de fala, como também uma reverência ao local, como se sua obra homenageasse a pluralidade e a diversidade da vida”, completa Paula Borghi.
Sobre a produção incluída no projeto, vale destacar as esculturas em cerâmica, reflexo da grande presença de utensílios de tradição mesoamericana no dia a dia em Oaxaca; colagens sobre papel, influenciadas pelo modernismo latino-americano; e as litogravuras, produzidas com acompanhamento de maestros mexicanos. Sobre elas, o próprio artista analisa: “as litografias estão mais próximas da ideia de uma narrativa, como os cadernos de viagem, de um registro mais visual do que de um trabalho mais de abstração, como são as telas ou como são as colagens. Talvez pela limitação do material – foi, sem dúvida, um desafio trabalhar o preto e branco, que não é comum na minha obra, mas também porque era um processo novo para mim”.
Pequeno retorno à terra pode ser visitado online pelo site da galeria (www.rvculturaearte.com) até 01 de maio e traz ainda textos, imagens de referência e vídeos sobre as obras e o artista. As visitas presenciais também poderão ser feitas, de acordo com os decretos sanitários.
Texto crítico
Pequeno retorno à terra
Em atenção as sutilezas da vida, Pequeno retorno à terra apresenta a recente produção artística de Rômolo D’Hipólito e compartilha conosco uma série de trabalhos que nascem das colheitas de suas vivências, sobretudo do período em que ele passou em Oaxaca, no México, nos anos de 2017, 2019 e 2020.
A fim de melhor compreender sua obra, antes é preciso mencionar que D’Hipólito nasceu em Foz do Iguaçu – tríplice fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai –, realizou residências em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Japão, Hungria, Croácia, Itália, Espanha, Marrocos, México e Guatemala, deu a volta ao mundo e nos momentos de pouso habita a cidade de Curitiba. Ou seja, vive em constante deslocamento.
Sempre acompanhado de caneta nanquim preta e tinta guache colorida, o artista costuma desenhar em seus inúmeros cadernos de viagem tudo aquilo que o toca, o atravessa. É possível dizer que seus cadernos atuam como extensão de seu olhar, cumplices de vivencias e guardiões de memórias visuais, afetivas e particulares. Cadernos que, mesmo sem pretensão, preparam o terreno para suas gravuras, esculturas e peças em tecido.
Por sua condição nômade, é possível notar influências de diversas culturas em sua produção. Foi em Tisserdmine, no Marrocos, onde D’Hipólito aprendeu sobre a manufatura do tear, o preparo de pigmentos naturais e os significados dos padrões geométricos marroquinos, de modo a realizar trabalhos em tecido. Bem como foi em Tokyo, no Japão, onde se encantou pelos ideogramas japoneses, seus caracteres e estilo de escrita na vertical, passando a incorporar fragmentos de textos japoneses em suas obras e a assinar conforme um ideograma vertical.
Entretanto, a influência de Oaxaca se faz mais pulsante nas obras aqui presentes, muitas vezes determinantes na criação dos trabalhos. Foi nessa cidade onde ele teve contato com a tradicional cerâmica mexicana – observando o oficio das mulheres que produziam os artesanatos e os objetos utilitários em barro – e com a litogravura, uma vez que as pedras mexicanas de lito apresentam as mesmas propriedades químicas das pedras europeias.
Sobre os trabalhos em exposição, as cerâmicas e as peças em tecido foram produzidas em Curitiba, enquanto que as litogravuras foram realizadas em Oaxaca no ateliê público Rufino Tamayo e no ateliê Bambú do mestre Abraham Torres; onde o artista esteve em residência. Isto porque, o espaço e o tempo de cada meio é respeitado, assim como o cultivo das plantações.
Para além das múltiplas linguagens que dão corpo aos trabalhos aqui presentes, muitos dos conceitos que os abarcam também são inerentes a cultura mexicana. Nota-se a referência ao muralismo mexicano e aos assuntos particularmente regionais como, por exemplo, a feitura do mescal com agave, a música popular dos Mariachis, as festividades religiosas, as feiras de rua, a influência da civilização Zapoteca, as frutas e as plantas endógenas.
E mesmo falando sobre alteridade, é preciso enfatizar que sua obra não se põe a serviço da construção do exótico e do monumental, pelo contrário, o respeito com as demais culturas e com a natureza, principalmente com os trabalhadores da terra, é o que faz sua produção ser tão potente. Não somente existe uma consciência do lugar de fala, como também uma reverência ao local, como se sua obra homenageasse a pluralidade e a diversidade da vida.
Desta forma é possível dizer que mais do que “artista viajante” – a fim de romper com a ideia colonial do termo na História da Arte, o qual se refere as expedições artísticas e científicas coloniais das Américas no sec. XVI –, D’Hipólito é um artista “Terrestre”, tomando emprestado o conceito do antropólogo e filósofo francês Bruno Latour: Isso porque o Terrestre, estando vinculado à terra e ao solo, é também uma forma de mundificação, já que não se restringe a nenhuma fronteira e transborda todas as identidades. (Onde Aterrar, pag. 66, 2020)
Não é em vão que suas imagens estão repletas de mãos e pés agigantados, no desejo de plantá-los na terra e se conectar com o ambiente onde se encontram. Como que seus trabalhos buscassem nos despertar para uma conexão entre natureza e cultura, alertando-nos para a consciência de que estas são uma só. É com poesia que suas obras dizem o quanto urgente é cultivar a arte, o solo e todas as formas de vida.
Isto porque o Pequeno retorno à terra é uma exposição que vai ao encontro da produção artística e da história pessoal do artista, na medida em que ambas são intrínsecas. É deste modo, em meio a beleza das cores, traços, volumes e formas, que somos convidados a nos reconectarmos com a origem da existência: a terra.
Paula Borghi
Pequeno retorno à terra
Em atenção as sutilezas da vida, Pequeno retorno à terra apresenta a recente produção artística de Rômolo D’Hipólito e compartilha conosco uma série de trabalhos que nascem das colheitas de suas vivências, sobretudo do período em que ele passou em Oaxaca, no México, nos anos de 2017, 2019 e 2020.
A fim de melhor compreender sua obra, antes é preciso mencionar que D’Hipólito nasceu em Foz do Iguaçu – tríplice fronteira entre Argentina, Brasil e Paraguai –, realizou residências em Hong Kong, Tailândia, Malásia, Japão, Hungria, Croácia, Itália, Espanha, Marrocos, México e Guatemala, deu a volta ao mundo e nos momentos de pouso habita a cidade de Curitiba. Ou seja, vive em constante deslocamento.
Sempre acompanhado de caneta nanquim preta e tinta guache colorida, o artista costuma desenhar em seus inúmeros cadernos de viagem tudo aquilo que o toca, o atravessa. É possível dizer que seus cadernos atuam como extensão de seu olhar, cumplices de vivencias e guardiões de memórias visuais, afetivas e particulares. Cadernos que, mesmo sem pretensão, preparam o terreno para suas gravuras, esculturas e peças em tecido.
Por sua condição nômade, é possível notar influências de diversas culturas em sua produção. Foi em Tisserdmine, no Marrocos, onde D’Hipólito aprendeu sobre a manufatura do tear, o preparo de pigmentos naturais e os significados dos padrões geométricos marroquinos, de modo a realizar trabalhos em tecido. Bem como foi em Tokyo, no Japão, onde se encantou pelos ideogramas japoneses, seus caracteres e estilo de escrita na vertical, passando a incorporar fragmentos de textos japoneses em suas obras e a assinar conforme um ideograma vertical.
Entretanto, a influência de Oaxaca se faz mais pulsante nas obras aqui presentes, muitas vezes determinantes na criação dos trabalhos. Foi nessa cidade onde ele teve contato com a tradicional cerâmica mexicana – observando o oficio das mulheres que produziam os artesanatos e os objetos utilitários em barro – e com a litogravura, uma vez que as pedras mexicanas de lito apresentam as mesmas propriedades químicas das pedras europeias.
Sobre os trabalhos em exposição, as cerâmicas e as peças em tecido foram produzidas em Curitiba, enquanto que as litogravuras foram realizadas em Oaxaca no ateliê público Rufino Tamayo e no ateliê Bambú do mestre Abraham Torres; onde o artista esteve em residência. Isto porque, o espaço e o tempo de cada meio é respeitado, assim como o cultivo das plantações.
Para além das múltiplas linguagens que dão corpo aos trabalhos aqui presentes, muitos dos conceitos que os abarcam também são inerentes a cultura mexicana. Nota-se a referência ao muralismo mexicano e aos assuntos particularmente regionais como, por exemplo, a feitura do mescal com agave, a música popular dos Mariachis, as festividades religiosas, as feiras de rua, a influência da civilização Zapoteca, as frutas e as plantas endógenas.
E mesmo falando sobre alteridade, é preciso enfatizar que sua obra não se põe a serviço da construção do exótico e do monumental, pelo contrário, o respeito com as demais culturas e com a natureza, principalmente com os trabalhadores da terra, é o que faz sua produção ser tão potente. Não somente existe uma consciência do lugar de fala, como também uma reverência ao local, como se sua obra homenageasse a pluralidade e a diversidade da vida.
Desta forma é possível dizer que mais do que “artista viajante” – a fim de romper com a ideia colonial do termo na História da Arte, o qual se refere as expedições artísticas e científicas coloniais das Américas no sec. XVI –, D’Hipólito é um artista “Terrestre”, tomando emprestado o conceito do antropólogo e filósofo francês Bruno Latour: Isso porque o Terrestre, estando vinculado à terra e ao solo, é também uma forma de mundificação, já que não se restringe a nenhuma fronteira e transborda todas as identidades. (Onde Aterrar, pag. 66, 2020)
Não é em vão que suas imagens estão repletas de mãos e pés agigantados, no desejo de plantá-los na terra e se conectar com o ambiente onde se encontram. Como que seus trabalhos buscassem nos despertar para uma conexão entre natureza e cultura, alertando-nos para a consciência de que estas são uma só. É com poesia que suas obras dizem o quanto urgente é cultivar a arte, o solo e todas as formas de vida.
Isto porque o Pequeno retorno à terra é uma exposição que vai ao encontro da produção artística e da história pessoal do artista, na medida em que ambas são intrínsecas. É deste modo, em meio a beleza das cores, traços, volumes e formas, que somos convidados a nos reconectarmos com a origem da existência: a terra.
Paula Borghi