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Zé de Rocha

Cruz das Almas, 1979
︎
︎CORRENDO RISCO    ︎TRAÇADO    ︎RISCORISCO
Zé de Rocha é artista visual. Destaca o RISCO como seu princípio de criação, em suas acepções de traço e perigo. Propõe um olhar gráfico para a Guerra de Espadas de Fogo¹, por meio de desenhos e vídeos de animação realizados com carvão. [¹Trata-se de uma manifestação que ocorre durante os festejos juninos no recôncavo e em outras regiões baianas, principalmente, em Cruz das Almas, cidade natal do artista]

Dessa maneira, os desenhos de Zé de Rocha podem ser associados a contextos diversos, em que o fascínio exercido pelo fogo confirma a
convivência com o risco como fator inerente à própria constituição do ser humano. É o risco em suas reincidências e multiplicidades, seja como traço ou linha, perigo iminente ou ameaça, apagamento, desenho de luz e escuridão.

Sobre seu trabalho, o curador Marcelo Campos destacou “ Zé de Rocha elabora, então, uma visão atualizada sobre tais usos históricos da imagem, ao assinalar a polissemia da palavra ‘risco’, etimologicamente ligada aos gestos de separação, anulação, corte. Nos desenhos do artista, a linha demarca fronteiras, contorna acontecimentos narrativos, explicita o perigo, garante a sobrevivência da imagem. Sim, a imagem, no trabalho do artista, sobrevive ao atrito do carvão e da pólvora sobre o papel, permanecendo, ainda que ameaçada pela incineração, como rastro, rastilho”.

Premiado em diversos salões regionais no Brasil, incluindo a IX Bienal do Recôncavo, seu currículo conta ainda com participações em importantes mostras nacionais como a III Bienal da Bahia, o 64º Salão de Abril e Arte Pará 2016, além de projetos internacionais em galerias e feiras de arte nno Brasil, Itália, Estados Unidos, Portugal e França.
Zé de Rocha is a visual artist. He highlights RISCO (portuguese word) as his principle of creation, in its meanings of drawing and danger. He proposes a graphic look at the Guerra de Espadas de Fogo¹ through drawings and animated videos made with charcoal. [!It is a manifestation that occurs during the June festivities in the Recôncavo and in other regions of Bahia, mainly in Cruz das Almas, the artist's hometown]

Therefore, Zé de Rocha's drawings can be associated with different contexts, in which the fascination exercised by fire confirms the coexistence with risk as an inherent factor in the very constitution of the human being. It is the risk in its recurrences and multiplicities, whether as a drawing or a line, imminent danger or threat, erasure, light and dark design.

About his work, curator Marcelo Campos highlighted “Zé de Rocha elaborates, then, an updated view on such historical uses of the image, by pointing out the polysemy of the word 'risco', etymologically linked to the gestures of separation, annulment, cut. In the artist's drawings, the line demarcates borders, outlines narrative events, explains the danger, guarantees the survival of the image. Yes, the image, in the artist's work, survives the friction of coal and gunpowder on paper, remaining, even if threatened by incineration, as a trail, fuse ”.

Awarded in many regional art salons, including IX Bienal do Recôncavo, Zé de Rocha has also been part of important national exhibitions like III Bienal da Bahia, 64th Salão de Abril and Arte Pará 2016, besides international projects in galleries and art fairs in Brazil, Italy, the United States, Portugal and France.

Obras disponíveis



Desde que Zé de Rocha, jovem artista brasileiro nascido no estado da Bahia, recebeu o grande prêmio da IX Bienal do Recôncavo de 2008, desenvolveu-se em seu trabalho um tema que ele já havia capturado iconograficamente: trata-se daquela forma de violência que muitas vezes acompanha o cotidiano das grandes cidades. Naturalmente, não é apenas o tema escolhido que rende interesse ao seu trabalho, mas especialmente sua articulação interna que o torna único e praticamente exclusivo.

O processo de narração visual reúne em seu fazer muitas técnicas e línguas, isto significa antes de tudo que Zé de Rocha está situado na área da arte contemporânea recente que ativa a construção da imagem através de sua desconstrução narrativa. Na minha opinião, a sua prática assume a forma de uma história ou uma crônica do visto que separa a imagem do ruído dos gritos que parecem surgir na superfície.

A protagonista dessas crônicas é o próprio artista que, todavia, escapa da auto referência e sobretudo da armadilha fácil do autorretrato. O ego se divide e se triplica, se esconde e se mostra até a incapacidade de reconhecer-se. É o eu e o outro que, ao mesmo tempo, se autoproclamam protagonistas e comparsas dessas crônicas. Rimbaud recorre com frequência à memória e à elegância violenta e vívida dessas crônicas imaginárias do extremo.

O processo de organização da sua obra passa por várias linguagens para, finalmente, finalizar-se com a serigrafia, uma técnica de reprodução pouco em voga entre os jovens artistas, mas que conheceu no passado um grande resultado, sobretudo com a prática pop de Andy Warhol. Para Zé Rocha, tudo parte da fotografia. Em seguida entra em jogo o computador com seus programas de manipulação tecnológica das imagens e finda na reprodução serigráfica sobre tela negra, onde a retícula branca traça com elegância visual a violenta história do seu corpo.

É interessante refletir sobre um aspecto pouco empregado na atual produção artística, aquele da impossibilidade de representar ou representar-se através de imagens, que seduz sempre, como nos ensinou René Magritte. Zé de Rocha sabe muito bem disso e desconstrói a imagem de seu eu em outros porque ninguém é realmente o eu e todos são falsamente os outros.

Mas a violência de suas imagens é também o resultado de sua própria condição. Nós não assistimos a esta, mas ao seu resultado de figura solitária num espaço pictórico e psicológico que leva à refletir sobre a condição humana de nossa época, assim como fez Francis Bacon.

De todo esse processo, ativado e desativado ao mesmo tempo, é uma evidência visual o recente trabalho de Zé de Rocha.

Antonio D’Avossa, curador da IX Bienal do Recôncavo.


Os desenhos de Zé de Rocha partem de observações sobre o traço, o risco, a matéria e o uso sociocultural que se faz da imagem. Vemos, com isso, o artista elaborar desenhos em escalas variadas, partindo do uso da linha. Configuram-se, em alguns momentos, cenas de narrativas populares, como as brincadeiras juninas de guerra de espada, onde os brincantes se enfrentam com artefatos pirotécnicos. Em outro sentido, Zé reelabora cenas de acidentes que se tornaram corriqueiras, desde o advento da fotografia e, hoje, continuam circulando nos meios de massa.

A imagem permanece como uma espécie complexa de intermediação entre as pessoas e a realidade. A imagem se configurou, historicamente, como uma vontade de restituir o que havia sido separado, pelo tempo, pela morte. Assim, foi usada com a condição de comprovação, mítica ou histórica. Nas tentativas de verificação, vimos tecidos guardarem vestígios, véus de Verônica virarem sudários para adoração coletiva. De outro modo, a fotografia analógica se adaptou a ocupar a presença do real, como se houvesse a impressão de um corpo, uma cena congelada, uma pegada.

Zé de Rocha elabora, então, uma visão atualizada sobre tais usos históricos da imagem, ao assinalar a polissemia da palavra “risco”, etimologicamente ligada aos gestos de separação, anulação, corte. Nos desenhos do artista, a linha demarca fronteiras, contorna acontecimentos narrativos, explicita o perigo, garante a sobrevivência da imagem. Sim, a imagem, no trabalho do artista, sobrevive ao atrito do carvão e da pólvora sobre o papel, permanecendo, ainda que ameaçada pela incineração, como rastro, rastilho.

O desenho de Zé de Rocha constrói-se no espetáculo, evidencia uma espécie de esgotamento da imagem: ônibus destruídos, carros amassados, pneus esgarçados. Com isso, ora atentamos para a extenuação dos materiais próprios ao desenho, como o carvão, o sanguínea, ora percebemos que a própria imagem está prestes a se desfazer.

Com os mesmos instrumentos utilizados na guerra de espadas, o desenho do artista excede limites, arriscando-se ao desaparecimento. O fogo, então, se torna elemento narrativo, desfazendo o rosto de homens que se exibem em dorso nu. O fogo é uma das mais importantes invenções humanas, roubada da natureza, não pela tentativa de produção de faíscas, mas pela capacidade de conservação. Os desenhos de Zé de Rocha, guardam, então, esta proximidade com a técnica que se utiliza da natureza (o fogo). Meios e fins se proliferam, mantendo-se em diálogo, abusando da capacidade de gerar sentido. E, assim, a imagem volta a exercitar seu poder de magia, como no sudário, já que os gestos dos atores se aproximam da prestidigitação, do ilusionismo. Os desenhos de Zé de Rocha são iluminações, êxtases, magia: nomeações distintas para os riscos da arte.

Marcelo Campos, curador, para a exposição “Há Risco”, Caixa Cultural Salvador, 2015.

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