RISCORISCO
Zé de Rocha23/10 a 30/11/2019
Curadoria: Sonia Rangel
Design: Vanessa Cersil
Assistência de Arte: Felipe Rezende
Apoio: EBA-UFBA
︎ Wendell Wagner/Caixa de fósforo
Release
Artista visual de Cruz das Almas, radicado em Salvador, Zé de Rocha (1979) se prepara para um outubro intenso no qual apresenta três diferentes conjuntos de obras, entre Salvador e Lisboa. Os trabalhos, frutos da produção mais recente do artista, são decorrencia dos estudos de douturamento realizados na Escola de Belas Artes da UFBA, sob acompanhamento da artista e professora Sonia Rangel, e retomam o discurso do artista que parte da polissemia da palavra risco para criar trabalhos gráficos, principalmente desenhos à grafite e carvão, que exploram situações de perigo e violência.
Para a exposição individual intitulada RISCORISCO, Zé de Rocha retoma o imaginário presente na Guerra de Espadas de Fogo, matéria que investiga desde 2011. Manifestação cultural que ocorre durante os festejos juninos no recôncavo e em outras regiões baianas, principalmente em Cruz das Almas, cidade natal do artista, este folguedo centenário proporciona anualmente a experiência coletiva do embate físico com o risco, e foi na paisagem de fogo, ferrugem e poeira que ele buscou as referências para seu desenho.
Artista visual de Cruz das Almas, radicado em Salvador, Zé de Rocha (1979) se prepara para um outubro intenso no qual apresenta três diferentes conjuntos de obras, entre Salvador e Lisboa. Os trabalhos, frutos da produção mais recente do artista, são decorrencia dos estudos de douturamento realizados na Escola de Belas Artes da UFBA, sob acompanhamento da artista e professora Sonia Rangel, e retomam o discurso do artista que parte da polissemia da palavra risco para criar trabalhos gráficos, principalmente desenhos à grafite e carvão, que exploram situações de perigo e violência.
Para a exposição individual intitulada RISCORISCO, Zé de Rocha retoma o imaginário presente na Guerra de Espadas de Fogo, matéria que investiga desde 2011. Manifestação cultural que ocorre durante os festejos juninos no recôncavo e em outras regiões baianas, principalmente em Cruz das Almas, cidade natal do artista, este folguedo centenário proporciona anualmente a experiência coletiva do embate físico com o risco, e foi na paisagem de fogo, ferrugem e poeira que ele buscou as referências para seu desenho.
Com um interesse que gravita em torno dos efeitos causados pela luz do material incandescente expelido pelas Espadas de Fogo, em contraste com a escuridão, Zé trabalhou apenas com carvão, entre traços e manchas, para produzir séries de obras bidimensionais e vídeos de animação. Os trabalhos também fazem referência a outras linguagens das artes, como a fotografia, a performance e a narrativa gráfica, mas o discurso cenral está sintetizado mesmo no risco em sua multiplicidade, como fator inerente à própria constituição do ser humano, seja como traço ou linha, obedecida e desobedecida no jogo com a vida, perigo iminente ou ameaça, apagamento, desenho de luz e escuridão.
Texto curatorial
Quando riscar e arriscar como diferença se repetem
No trabalho de Zé de Rocha, põe-se o RISCO em risco, assumido pelo artistacomo um cronotopos irradiador entre cálculo e transgressão, como ampla Imagem Geradora de um incessante jogo no atrito com as matérias, assim vai riscando e arriscando os múltiplos sentidos poéticos percebidos ou intuídos nas suas ações em confronto com suportes e meios diversos.
Da Guerra de Espadas, manifestação tradicional na Cidade de Cruz das Almas, além de trazer um olhar fascinado pelo desenho do fogo como um espectador privilegiado, pois ainda menino, lá também imprimiu na pele um “cavaleiro de espadas”, vestindo as suas “armaduras”, quando em festa e presença brincou.
Porém, desse lugar carrega outro corpo, das sensações, que ultrapassa e retorna na arte, repetindo sua diferença única. Com esse corpo-memória já foi “espadeiro-pintor”, quando utilizou para riscar com fogo das “espadas”, no tempo-espaço de vídeos e nos suportes das telas, com o próprio instrumento dessa manifestação - ainda viva, mas em vias de tensionadas e ameaças de desaparição.
Ao decantar imagens, no retorno da diferença para o atual ciclo de trabalhos, a vida continua a transbordar de seus cadernos, de seus registros em meios técnicos ou tecnológicos, de seu “atelier” sempre expandido a vida retorna também nos vídeos. Dança de novo o original gesto espadeiro, arquétipo masculino-feminino, do conhecimento profundo, do fogo e da luz. Destaca-se a força motriz na delicadeza do gesto ancestral da avó que captura em silência, in memoriam, na repetição infinita, revertida e espelhada.
Frente ao trabalho de Zé, brotam mais perguntas:
Para onde vão as coisas que morrem nascem pelas queimas do fogo?
E aquelas que são acontecidas e que são pelo fogo do tempo queimadas?
O que fazer com toda a matéria sobrante calcinada?
Para onde irão as coisas que estão, nesse momento, sendo queimadas e na iminência de apagar ou desaparecer?
E essa luz que se apagou há milênios e ainda nos chega visível no twmpo presente da nossa escuridão?
Ao decantar este denso universo poético, um exímio desenhista amadurece e permanece riscando e arriscando uma obra singular. A emoção nos vence pela movência do traço luz-escuridão, revelando a decifração de uma paisagem pungida pela matéria ígnea. Por tudo aquilo que além de nós perdura, mas continua pelo avesso do avesso na sombra a nos incendiar. Eterno jogo humano, contengência do morto-vivo, do presente-ausente, e quem sabe por aqui, na captura, um Prometeu pós-moderno também retorna e ao mesmo tempo nos aprisiona, nos espia: zomba de nós, ou nos liberta?
Sonia Rangel
Quando riscar e arriscar como diferença se repetem
No trabalho de Zé de Rocha, põe-se o RISCO em risco, assumido pelo artistacomo um cronotopos irradiador entre cálculo e transgressão, como ampla Imagem Geradora de um incessante jogo no atrito com as matérias, assim vai riscando e arriscando os múltiplos sentidos poéticos percebidos ou intuídos nas suas ações em confronto com suportes e meios diversos.
Da Guerra de Espadas, manifestação tradicional na Cidade de Cruz das Almas, além de trazer um olhar fascinado pelo desenho do fogo como um espectador privilegiado, pois ainda menino, lá também imprimiu na pele um “cavaleiro de espadas”, vestindo as suas “armaduras”, quando em festa e presença brincou.
Porém, desse lugar carrega outro corpo, das sensações, que ultrapassa e retorna na arte, repetindo sua diferença única. Com esse corpo-memória já foi “espadeiro-pintor”, quando utilizou para riscar com fogo das “espadas”, no tempo-espaço de vídeos e nos suportes das telas, com o próprio instrumento dessa manifestação - ainda viva, mas em vias de tensionadas e ameaças de desaparição.
Ao decantar imagens, no retorno da diferença para o atual ciclo de trabalhos, a vida continua a transbordar de seus cadernos, de seus registros em meios técnicos ou tecnológicos, de seu “atelier” sempre expandido a vida retorna também nos vídeos. Dança de novo o original gesto espadeiro, arquétipo masculino-feminino, do conhecimento profundo, do fogo e da luz. Destaca-se a força motriz na delicadeza do gesto ancestral da avó que captura em silência, in memoriam, na repetição infinita, revertida e espelhada.
Frente ao trabalho de Zé, brotam mais perguntas:
Para onde vão as coisas que morrem nascem pelas queimas do fogo?
E aquelas que são acontecidas e que são pelo fogo do tempo queimadas?
O que fazer com toda a matéria sobrante calcinada?
Para onde irão as coisas que estão, nesse momento, sendo queimadas e na iminência de apagar ou desaparecer?
E essa luz que se apagou há milênios e ainda nos chega visível no twmpo presente da nossa escuridão?
Ao decantar este denso universo poético, um exímio desenhista amadurece e permanece riscando e arriscando uma obra singular. A emoção nos vence pela movência do traço luz-escuridão, revelando a decifração de uma paisagem pungida pela matéria ígnea. Por tudo aquilo que além de nós perdura, mas continua pelo avesso do avesso na sombra a nos incendiar. Eterno jogo humano, contengência do morto-vivo, do presente-ausente, e quem sabe por aqui, na captura, um Prometeu pós-moderno também retorna e ao mesmo tempo nos aprisiona, nos espia: zomba de nós, ou nos liberta?
Sonia Rangel